O FMI prevê a maior contração econômica desde o crash de 1929
O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou a atualização de suas previsões para a economia mundial e os efeitos causados pelo Coronavírus. Na Novaeconomiahoje analisamos o relatório publicado pela agência.
Há poucos dias conhecíamos as previsões para a economia mundial, divulgadas pelo FMI. Uma publicação muito aguardada, depois da última feita em Davos para o 50º aniversário do Fórum Econômico Mundial (WEF); incluindo, sim, os efeitos de uma crise econômica e sanitária que, ao contrário do resto, não incluiu seus precedentes. Uma revisão para baixo nas previsões, muito antecipada por alguns analistas que, diante do ocorrido, não conseguem enxergar com clareza no horizonte próximo.
Nesse sentido, o FMI comunicou a mesma percepção aos analistas. Pois bem, apesar de as previsões mostrarem resultados bastante explícitos, o referido relatório destaca essa incerteza que, por causa da situação que nos acomete, impede a medição objectiva de algumas variáveis sobre as quais, de momento, não conhecemos o comportamento . Algumas variáveis que, dada a incapacidade de monitorar e projetar seu comportamento, continuam deixando um horizonte incerto para a economia como um todo.
A trajetória da pandemia, a intensidade e eficácia dos esforços de contenção, a extensão dos choques de oferta, o impacto das condições drasticamente restritivas nos mercados financeiros globais, mudanças nos padrões de gastos, mudanças comportamentais, efeitos na confiança e volatilidade dos preços das matérias-primas materiais, são algumas das variáveis que, por enquanto, são mais uma desconhecida para o grupo de analistas e economistas, incapazes de projetar um comportamento objetivo dos mesmos diante da possibilidade de que estes possam sofrer variações no curtíssimo prazo. prazo.
E é justamente que estamos diante de um fenômeno em que, como o próprio FMI prevê, não podemos saber objetivamente qual será o comportamento de um vírus que, até agora, era um completo cisne negro para os economistas. Segundo diversas agências de pesquisa, nesse sentido, estamos em um cenário em que os fenômenos que estão ocorrendo no dia a dia obrigam os economistas a ficarem cegos, tentando prever qual será o nível e a intensidade. a economia sofrerá a esperada e tão temida contração econômica.
Em geral, apesar das previsões estarem na mesma linha, podemos ver uma grande diversidade de previsões e previsões. E é que, dependendo do cálculo realizado e do comportamento atribuído a cada uma das variáveis mencionadas, o resultado produzido pela infinidade de modelos criados para extrair projeções é diferente em cada uma delas. Ou seja, existem tantas projeções quanto modelos.
E é que, apesar de tudo o que foi mencionado até agora, poderíamos estar diante da maior contração da economia mundial desde a Grande Depressão de 1929.
Em termos gerais
De acordo com o relatório e as previsões que ele faz, a crise do Coronavírus e seus efeitos na economia acabaram gerando uma dupla crise: econômica e sanitária. Apesar de a utilidade prevalecer sobre as demais, estamos em um cenário em que outros tipos de ações só agravariam a situação. E é que, é inútil conter os efeitos econômicos se depois não conseguirmos dissipar os efeitos de uma crise sanitária que, justamente, é a causa do grande bloqueio e do choque de oferta que a economia mundial está experimentando como um todo.
Sair do atoleiro em que a economia se encontra é o que importa, e para isso, seja o que for, precisamos sair dessa crise sanitária, mitigando os efeitos de um vírus que, como sabemos, é a causa de todo este desastre. Porém, como dissemos antes, ainda não conhecemos algumas variáveis tão importantes quanto a trajetória da pandemia e seu comportamento. Podem ser realizados estudos de acompanhamento responsáveis por monitorar aquelas variáveis que tentam estimar como o vírus se comportará, mas como se prevê o comportamento de um vírus que nem se esperava que existisse?
Este é o principal problema. Para isso, o FMI optou por uma base de cálculo, vista por muitos economistas como uma visão bastante otimista, na qual o vírus se dissipa durante o primeiro semestre do ano, permitindo que a economia retome sua atividade no segundo semestre e fechando o ano com economia completamente normalizada; com contração sim, mas normalizado. Assim, a previsão que a agência lança para a economia coloca a contração econômica em -3%. Uma contração de 3 pontos percentuais no Produto Interno Bruto (PIB), o que coloca a contração como a pior desde a Grande Recessão de 2008, até superando-a.
Uma contração que nada mais é do que o produto de uma base de cálculo que leva em consideração a retomada da atividade econômica durante o segundo semestre, mas que, por enquanto, não conseguimos visualizar. Com isso, no cenário selecionado, o PIB mundial retomaria seu crescimento no próximo ano, com crescimento projetado para a economia mundial em 5,8%. Um crescimento otimista que o FMI aponta, mas que está sujeito àquela extrema incerteza que o organismo multilateral tanto enfatiza, dada a alta probabilidade de que as previsões sofram desvios no curto prazo.
Em termos gerais, estamos diante de previsões que incluem uma previsão que, apesar de enfrentar a pior previsão desde a Grande Recessão de 2008, ainda é uma previsão muito precoce. Ou seja, uma previsão em que ainda persistem muitas variáveis que podem definir novos rumos nas projeções futuras, invalidando previsões que, por enquanto, ainda não são tão pessimistas quanto outras que mostram uma contração maior do que a projetada pelo FMI. Nesse sentido, monitorar essas variáveis e fazer ajustes constantes e repetidos é fundamental para controlar a situação, pois se há algo claro em todas as previsões, se há um denominador comum em todas as projeções, esse é o grau de incerteza ao qual eles são submetidos.
uma contração assimétrica
Se analisarmos as previsões dividindo-as em blocos econômicos, percebemos rapidamente a assimetria que os diferentes blocos apresentam para o FMI. Assim, as previsões feitas pela agência para as diferentes economias do planeta mostram essa variação na intensidade da referida pandemia. Variações que, por outro lado, causam essa diversidade de previsões, com contrações tão diferentes nos diferentes blocos que compõem a economia mundial. Uma situação que complica ainda mais o cenário atual, uma vez que muitas dessas economias começam a vivenciar a pandemia, enquanto outras já apresentam uma leve estabilização.
De acordo com as previsões, a previsão feita pela agência para a economia norte-americana mostra uma contração muito em linha com as economias emergentes da América Latina e do Caribe. Nesse sentido, a economia norte-americana sofreria uma contração de -5,9% em seu produto interno bruto, retomando seu crescimento no próximo ano, com crescimento de 4,7%. Uma previsão muito preocupante para seu presidente, Donald Trump, que enfrentava a reeleição nas urnas este ano, apresentando uma economia que, anos atrás, acabava de colher grande crescimento, além de níveis bastante favoráveis nos principais indicadores macroeconômicos.
Nesse sentido, a economia latino-americana também apresenta comportamento semelhante. Altamente dependentes do comportamento do comércio e da evolução dos preços das commodities, as economias emergentes da América Latina continuam se preparando para enfrentar um vírus que, por enquanto, não sabe a intensidade com que dominará as economias latino-americanas. E é que, uma contração de -5,2%, em um cenário em que o vírus ainda não ostentou sua presença na região, pode até ser muito otimista. A evolução do vírus e sua capacidade de contê-lo, conforme indicado pelo próprio FMI, será fundamental para a economia latino-americana e os efeitos que dela derivam.
A Europa, por sua vez, e como região mais afetada pelo vírus, mostra essa maior contração da economia. Estamos a falar de uma contração de -7,5%, produto desta maior intensidade e daquele intenso confinamento que os diferentes governos europeus aplicaram. Nesse sentido, com economias como China ou Itália, paralisadas por um vírus que, até agora, mostrava sua pior face na União Europeia, as previsões da agência se alinhavam com a economia europeia. No entanto, a evolução do vírus nestes países, bem como a possibilidade de sair do confinamento antes de outros países que entraram nesta crise muito mais tarde, poderão beneficiar estas economias, colocando o crescimento futuro em níveis mais otimistas do que aqueles que, pelo contrário, apresentam outros blocos econômicos.
A menor intensidade que blocos como a África ou o conjunto de economias emergentes da Ásia tiveram que enfrentar também constam nas previsões da agência. Assim, tanto África, à espera de um possível contágio e com uma economia dependente da venda de matérias-primas, apresenta uma contração bastante moderada nas previsões que se referem ao bloco económico. Nesse sentido, uma previsão que inclui, como dissemos, aquela menor intensidade do vírus em continentes que, como a África, têm apresentado níveis de infecção bastante leves. No entanto, a paralisação do comércio e os riscos de um possível contágio ainda estão muito presentes.
As economias emergentes da Ásia, por sua vez, são as que apresentam melhor desempenho, conforme afirma o próprio FMI. As previsões que o organismo lança não permitem visualizar, sequer, uma contração na economia. Segundo a entidade, um bloco econômico que fecharia o ano com um crescimento de 1% do PIB. Nesse sentido, uma economia que, como no caso de África, não foi tão afetada pelos efeitos de um vírus que, afinal, é a causa de todos os problemas que a economia vive nestes momentos. E é que devemos lembrar que essas previsões nada mais são do que a tradução que o organismo faz dos efeitos de uma pandemia viral na economia mundial; assim, aqueles países menos expostos, dessa forma, também apresentam contrações menos pronunciadas e com impactos mais limitados.
Vale destacar, sem tê-lo mencionado no caso anterior, a situação na China diante do Coronavírus. Sendo a primeira economia afetada, esta rápida retoma da atividade económica e a recuperação, a priori, em “V” que a economia do gigante asiático apresentava, fez com que as previsões não fossem encaradas como pesadas como, no início do vírus … e até então, era esperado. No entanto, ainda é cedo para dar um veredicto final, uma vez que os novos casos de contágio e uma possível recaída na economia chinesa poderão provocar desvios nas previsões, pesando o crescimento que a organização destaca para este grupo económico.
Por fim, não podemos esquecer a previsão feita para os países do Oriente Médio e Ásia Central. Algumas previsões que, da mesma forma que na Ásia emergente, apresentam menor intensidade na contração prevista. Nesse sentido, estamos diante de uma contração de -2,8% para este ano, esperando para ver, como é o caso da China, o comportamento que o vírus experimentará nesses países, bem como os possíveis episódios de contágio e recaídas de que, neste momento, não estão isentos. No entanto, em síntese, as previsões apontam para um maior otimismo do que para outros blocos económicos, pelo facto de, à semelhança da China, estes países terem vivido períodos de confinamento muito mais concentrados, mas com períodos de tempo muito mais limitados do que, por exemplo, na Europa.
Por país, a tabela apresentada acima inclui algumas das principais previsões apresentadas pelo próprio FMI. Em relação ao exposto, podemos observar esse maior grau de impacto em economias europeias como Espanha ou Itália, que, sendo o epicentro do Coronavírus até hoje, estão tendo efeitos econômicos mais pronunciados do que, por exemplo, o resto de suas homólogos europeus. ; com contrações mostrando esse impacto mais limitado.
Os demais países, como mostra a tabela do FMI, apresentam contrações em linha semelhante, acusando-os da paralisia que tanto citamos na análise. Algumas contrações que oscilam, na medida em que o vírus mostra um maior grau de presença nos diferentes países que compõem a economia global.
Em suma, a economia mundial enfrenta uma contração generalizada das economias, acusada por uma desaceleração econômica que perseguiu todas as economias, mesmo antes da crise do Coronavírus. Nesse sentido, a economia mundial está otimista, dentro do pessimismo deixado por um Coronavírus que paralisou qualquer atividade econômica que estivesse ocorrendo no planeta. No entanto, continuamos a assistir a uma pandemia que ainda persiste e alastra pelo planeta, embora com menor intensidade nas economias que, como a europeia, apresentam uma curva de contágio mais limitada do que no início.
No entanto, a extrema incerteza a que estão sujeitas as previsões continuam a revelar um cenário bastante incerto. Controlar e monitorar os diferentes comportamentos que as variáveis estão experimentando, como os mencionados no ponto anterior, é fundamental, e isso foi indicado pelo FMI, para ajustar as previsões à realidade que a situação apresenta. Por isso, considerar todos os cenários possíveis e não descartar as previsões é a melhor decisão que os governos podem tomar, pois diante de tal incerteza, descartar cenários, por mais catastróficos que sejam, poderia gerar uma complacência injustificada que poderia nos levar a recaídas muito mais profundas.